sábado, 5 de maio de 2007

A contrariedade do Ser

Fotografia: Fátima Silva

Depois de dissecadas algumas nuances da vida, eis que surge um mundo obscuro, inóspito, agreste. Quando o crepúsculo chegou não parecia conter breu, era como em todos os dias uma noite igual às outras. Mas não, tal não aconteceu, bem pelo contrário. Escondida como uma sombra imperceptível a contrariedade instalou-se, fez baixar os braços, a cabeça e todo o corpo foi levado numa inebriante brisa de coisa alguma.

Os médicos agitaram-se em olhares de interrogação, abanaram as cabeças motivadas pelos últimos congressos, onde se falou de tudo, fora isto. Olharam-me, analisaram-me, fizeram-me fechar os olhos, abri-los, estender a língua, inspirar, expirar, sentar, levantar... Estavam-se marimbando para o problema. Fosse o que fosse haveria de ser tratado pelo colega da psiquiatria, que é para estes casos que ele existe. E remeteram a contrariedade do meu ser às mãos, inadequadas, de um paranormal que estudou para nos confundir ainda mais.

Os dias seguiram-se em desalinhado decorrer. Sempre fugindo à claridade, o desânimo levou a amontoar as ocupações tão permentes, e remeteu-as a terceiros planos. Planos a que eu não conseguia chegar por mais que me esticasse. As vozes daqueles que estavam no lado de fora desse vidro imaginário, chamavam-me à razão a ver se não me afundava dentro do desconhecido de mim mesmo. Inúteis tentativas.
Estava demasiado preso à inútilidade presente da minha existência. Nem combatia, nem me movia, nem as ouvia, ficava simplesmente adoçando os dias na expectativa de ser libertado pelo meu próprio impedimento.

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